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ARESTAS

ARESTAS

Uma leitura actualizante de a Arte de Ser Português In Ensaios de Teatro nº2

Publicação anual | Novembro 2013 | informações: http://teatroensaio-teatreia.blogspot.pt/

 

 Uma leitura actualizante[i] de a Arte de Ser Português

 

Dedicatória:

À leitora ideal para uma performance actual da arte de ser apenas uma mulher.

 

Uma leitura no teatro do mundo

 

Uma leitura em que possamos criar um diálogo provocando o passado e convocando o futuro numa linguagem presente? Será, esta questão, o desafio que suscita a Arte de Ser Português? Como é que nos vemos enquanto mulheres no espaço textual e no espaço convocado pelo texto de Teixeira de Pascoaes, neste navio, «heterotopia por excelência» (Foucault, 1966), sempre em partida anunciada que nunca partiu ou que, antes de partir, sempre já regressou? Onde nos colocamos nesta repetição que aponta para um círculo inquebrável?

A Arte de Ser português[ii] de Teixeira de Pascoaes tem quase um século. Relembramos que foi escrito em 1915 e revisto e actualizado pelo poeta de Amarante em 1920. Como tal, no âmbito dos estudos literários, pertence ao que é chamado de «literatura antiga». Sem enveredar por uma abordagem historicista, apesar de tal componente poder vir a ter o seu peso na compreensão contextual do texto de Pascoaes, parece-nos pertinente referir muito brevemente pequenos indícios temporais e históricos. A Arte de Ser Português situa-se num contexto histórico nacional com características muito específicas posto que, no tempo convocado por Cronos[iii], corresponde aos primeiros anos da República (1910) e simultaneamente, num tempo convocado por Tempus[iv], carrega os sinais de uma configuração progressiva dos fundamentos das ditaduras (1926). Num contexto histórico internacional, o texto situa-se durante a primeira guerra mundial (1914-1918). Ambas estas referências históricas apenas apontam para um aspecto com um certo peso no texto de Pascoaes, isto é, a questão essencialmente ligada à natureza dos nacionalismos, convocada de forma premente na Arte de Ser Português em que se vislumbra os sobressaltos e os fundamentos dos nacionalismos profundos e, tão frequentemente, ressurgentes enquanto identidade aglutinadora e exclusiva, em momentos de conflitos armados e como podemos verificar em tempos de crises económicas, sociais e políticas. Num contexto artístico europeu tendo em conta a presença premente dos nacionalismos, não podemos deixar de referir o movimento chamado de futurismo centrado na figura do poeta italiano Filippo Tommaso Marinetti com a publicação do manifesto futurista em 1909 no jornal Le Fígaro..

No que concerne os textos antigos, estes colocam-nos sempre, do ponto de vista da teoria da literatura, diante de um problema que nos projecta para a sociologia da leitura, passando pela estética da recepção[v] até à teoria da comunicação. Para Jauss[vi] a obra literária, ou artística, tem por ambição permanecer válida, isto é, legível para além do tempo e do espaço em que foi concebida e realizada. Por outro lado, o texto literário só é válido através dos seus leitores reais[vii], isto é, pelas repetidas leituras através dos tempos e dos espaços. Partindo destes pressupostos, o texto do poeta de Amarante coloca-nos diante de um problema que convoca a leitura e os leitores. Primeiro, porque se trata de um texto doutrinário e, como tal, estabelece os limites dos seus destinatários[viii], isto é, um conjunto mais reduzido de leitores ideais[ix] que configuram implicitamente possíveis leitores reais. Segundo, porque Teixeira de Pascoaes dirige o seu texto a um grupo etário de pessoas localizadas em determinado espaço, isto é, um conjunto de pessoas de uma região específica, neste caso Portugal, com determinadas idades, neste caso a «mocidade». Isto é realizado através de uma epígrafe, um texto curto que antecede o texto sob a forma de uma dedicatória. Esta dedicatória é um paratexto[x] que adquire as características de uma palavra autoritária[xi]. Contudo, uma leitura atenta do texto, colocando-o no seu contexto histórico, envolve-nos numa contradição. Esta constrói-se em torno da palavra autoritária da dedicatória e do conteúdo textual. Verificamos que o texto parece ser mais dirigido a pedagogos do que à mocidade dos anos 1915. Neste sentido intuímos que Teixeira de Pascoaes adoptou uma espécie de protocolo de leitura temporal e socialmente desviante indicando dois caminhos. Primeiro, induzindo o possível leitor, seu contemporâneo, em adoptar a dedicatória para si mesmo, aplicando-a a um propósito pedagógico em que a população visada seria a mocidade com a qual estaria ou entraria em contacto. Por outro lado, o leitor ideal a quem o texto se dedica, é o im-possível leitor de 1915. Pois sabemos que nessa altura, esse leitor ainda era um leitor raro, posto que a taxa de alfabetização era muito baixa[xii]. Terá sido esta a razão que levou Miguel Esteves Cardoso, na introdução que fez ao texto publicado pela Assírio e Alvim em 2007, a dizer que «Os Portugueses de Pascoaes nem sequer existiam.» Possivelmente, o leitor ideal visado pelo autor terá sido um leitor de Outro tempo, um leitor que teria vindo a existir verdadeiramente através das reformas educativas previstas pela República, a criação de escolas, a escolarização e a escolaridade obrigatória. A formação de uma consciência política e o envolvimento na vida da polis depende do contacto das pessoas com a linguagem oral e escrita, assim como no desenvolvimento das faculdades de compreensão, interpretação e formulação de conteúdos. Contudo, a História teve outros contornos e este projecto humanista republicano não chegou a ser completado devido à instabilidade política que trouxe a ditadura militar de 1926 e depois o Estado Novo (1933-1974). O leitor ideal de a Arte de Ser Português não assistiu ao seu nascimento, apenas ficou esboçado na dedicatória do teorizador da Renascença Portuguesa. Em vez de crescer, desfaleceu, minguou, des-existiu e ficou preso na narrativa doutrinária do poeta do saudosismo. Ainda que o texto possa ter tido o seu impacto junto de alguns eruditos da época, ainda que possa ter sido aproveitado, desvirtuado, ou desviado, pelos fazedores das políticas do Estado Novo, o texto nunca cumpriu a sua função inicial mais envolvente e abrangente.

Situando-nos de um ponto de vista de uma humanidade partilhada, num mundo partilhado[xiii] e remetendo para a definição da palavra «esquerda» dada por Gilles Deleuze no Abecedário[xiv], convocando a nossa percepção do mundo enquanto indivíduos colocados no mundo, sendo que o mundo é o Mundo e não apenas o nosso pequeno mundo limitado a nossa casa, podemos verificar, de um ponto de vista intimamente português, que, tal como nos diz José Gil[xv], «(...)todos os portugueses falam constantemente dos portugueses que são assim ou assado»(2005:15), que a saudade tem sido muito explorada para esboçar os contornos do ser português e isto tanto a nível da produção artística, dos ensaios literários, como a nível popular, quer pelos habitantes de Portugal, quer pelos seus emigrantes pelo mundo. Uma leitura actual de Pascoaes não pode, de nenhum modo, seguir a vereda de uma crítica anacrónica necessariamente obsoleta pela própria natureza do conteúdo do texto e pela distância temporal, nem se pode reduzir a uma interpretação passadista convocando uma abordagem ucrónica. Ainda que teríamos certamente que reconsiderar questões que envolvem a arte de ser só por si e, por outro lado, o facto de poder ser português. Isto no sentido de não cairmos em configurações de nacionalismos exacerbados que tanto prejudicam as populações no contexto mundial actual. Por outro lado, não devemos esquecer o que António José Saraiva[xvi] nos indica acerca do carácter perigosamente subjectivo que pode constituir a descrição de um povo:

 

«Reconhecemos que ao tentar caracterizar individualmente uma nação entramos num género de problemas para o qual não há método científico estabelecido, e por isso é aqui grande o risco de impressionismo arbitrário, dos estereótipos e das generalizações sem fundamento, de que aliás há vários exemplos.» (1996: 77).

 

Escrever um texto doutrinário implica necessariamente que o autor conheça ou projecte de forma mais ou menos aprofundada os dados sociais, históricos, culturais e ideológicos do leitor que quer idealmente alcançar. Este texto doutrinário, com uma forte componente idealista convocando um leitor ideal, um leitor ainda porvir, mas que nos é apresentado no texto de Pascoaes como sendo historicamente masculino, implicando uma nuance visionária, é validado pela delicada e saudosa introdução de Miguel Esteves Cardoso. Tal abordagem constitui um incentivo à leitura na actualidade de um texto antigo assumido como tal. Actualizar ou não a leitura de textos antigos é um assunto premente das políticas educativas, mais envolvidas na rapidez e na operacionalização racionalizante[xvii] projectada na sociedade em termos laborais e económicos. Mas actualizar a leitura numa vontade de reapropriação emancipadora do texto de Pascoaes no palco da actualidade é urgente para repensar a espectadora que somos[xviii].

 

Mutatis mutandis

 

Reduzir o espaço entre o texto e o leitor será possível se apontarmos para a ferida, a chaga que o hábito ocultou e que a memória afagou com condescendência. Assim o texto convoca uma necessária actualização de leitura no sentido de abrir um horizonte de pensamento, convocando o espaço e o tempo que abordaremos através da heterotopologia[xix] definida por Foucault e as sínteses do tempo salientadas por Deleuze[xx]. Uma leitura actual coloca questões de género, questões de poderes instituídos, questões políticas. Estas questões reencontram-se na palavra pátria que o Padre António Vieira, reinventou:

 

«(...) Portugal é para os portugueses mais uma mátria que uma pátria. A Mátria é a terra de origem, dá o leite e a criação materna: é a cultura ao nível da afectividade. A pátria ensina os padrões ao nível das relações com o exterior, que é também o nível propriamente intelectual.» (cit. A. J. Saraiva,1996:106)

 

Neste sentido, começando pela noção de espaço, em 1966, Foucault dizia-nos que:

 

« Je rêve d’une science, et je dis bien une science, qui aurait pour objet ces espaces différents, ces autres lieux, ces contestations mythiques et réelles de l’espace où nous vivons. Cette science n’étudierait pas les utopies, puisqu’il faut réserver ce nom à ce qui n’a vraiment aucun lieu, mais elle étudierait les hétérotopies, les espaces absolument autres et forcement la science en question s’appellerait, elle s’appellera, elle s’appelle déjà l’hétérotopologie.»

 

O texto de Pascoaes convoca um espaço que ainda hoje não vem inscrito em nenhum mapa e que acompanha os portugueses constituindo-se como uma heterotopia. Aquela que faz com que os portugueses não se situem nem dentro, nem fora da Europa. Aquela que faz com que Portugal se pareça estranhamente ao navio, espaço flutuante, «heterotopia por excelência» (Foucault, 1966). É um espaço, dentro de outros espaços, que não se situa apenas, geograficamente, na finisterra da Europa sempre virado para o Atlântico. Tratar-se-ia portanto de uma nova categoria de heterotopia, forjada à imagem de um povo. Esta heterotopia não se limita às fronteiras de uma nação, de um país. Esta heterotopia, como espaço real que não se encontra em nenhum mapa de forma definida, convoca os portugueses que povoam vários espaços, mas também aqueles que foram submetidos a uma cultura portuguesa quer através da permanência em território português, quer pela frequência da comunidade, da língua, da cultura e até pelos vestígios deixados pelas colonizações. A Arte de Ser Português inscreve-se numa heterotopia saudosa que liga um espaço real a uma cultura e um povo a um espaço fictício em que se configuram, desenham, reformulam de forma mais ou menos afirmativa, conforme o momento e as necessidades, as características da saudade, convocando simultaneamente a claustrofilia saudosa e a saudade claustrofóbica. A heterotopia da saudade não é nem acabada, nem estanque, porque através dos tempos vai conjugando exacerbações, minimizações ou alterações. Esta heterotopia cria-se através da aliança do ser português com os diferentes espaços que povoa e a projecção que uma simples palavra de três sílabas, ao convocar a especificidade que lhe foi conferida através da literatura, a sua intraduzibilidade paradigmática, assim como a sua assimilação e transmissão dentro da sua unicidade planetária a todos os níveis sociais. Assim a heterotopia da saudade inscreve-se nas duas principais categorias, aglutinando-as, sendo que permanece entre a «heterotopia de crise» e «heterotopia de desvio», mas acaba por se reencontrar nas seis descrições ou princípios definidos por Foucault.

No que concerne a questão do tempo retomando o pensamento de Gilles Deleuze[xxi], é-nos dito que a síntese do tempo representa o presente no tempo. É o presente vivido. É uma síntese passiva. Esta síntese passiva convoca a beatitude e a contemplação: «Nous sommes toujours Actéon par ce que nous contemplons, bien que nous soyons Narcisse par le plaisir que nous en tirons. Contempler c’est soutirer» (2005: 102). A síntese constitui o tempo como presente vivo e o passado e o futuro como dimensões deste presente. (2005:05). A heterotopia da saudade encontra o seu fundamento nesta primeira síntese do tempo, sendo que é um presente vivo envolvendo toda a vida orgânica e psíquica do hábito (2005: 107). A presença de um Acteon (aquele que vê sem querer e que é transformado por isso[xxii]) e de um Narciso (aquele que se vê, se deseja e morre/transforma-se por isso) dá-nos pistas para uma actualização do texto de Pascoaes. O hábito é a fundação do tempo, mas o fundamento do tempo é a memória (2005:108) A segunda síntese do tempo é a memória, ou o tempo como passado puro. Assim a heterotopia da saudade manifesta-se tanto no hábito, como na memória. Na terceira síntese do tempo, o presente e o passado são dimensões do futuro. Interessa-nos em particular, no contexto desta leitura, esta terceira síntese do tempo porque: « Cette synthèse du temps constitue un avenir qui affirme à la fois le caractère inconditionné du produit par rapport à sa condition, l’indépendance de l’œuvre par rapport à son auteur ou acteur» (2005 :125)

Assim, já começámos a pensar[xxiii], mas o pensar inscreve-se no espaço e no tempo, no espaço, enquanto heterotopia, necessário para que a palavra adquira forma concreta e no tempo, enquanto tempo vazio, como outro tempo ainda por vir. É um pensar composto por fragmentos, mas não será isso mesmo o pensar, sempre fragmentário, sem registo concreto, continuando de pensar-se em si e por si Antígonas ou Efigénias? Íntima e ocidentalmente, Antígona e Efigénia por e para si? Por meio de um sacrifício auto infligido ou um sacrifício hetero infligido? Pouco importa que venha de dentro ou de fora, porque um e outro complementam-se, porque já não será propriamente um sacrifício no sentido pleno da palavra, não será a lei descrita por Teixeira de Pascoaes, evocando a renúncia e que convoca necessariamente os excessos de uma ditadura tal como salientou Walter Benjamin[xxiv]. Um sacrifício tão frequentemente assimilado em todos os discursos. O momento certo não é um atrasar, não é um esperar passivo, não é uma falta ou uma falha. Ser portuguesa? Portuguesa herdeira de uma História, de um espaço cultural publicamente minguado, mas implicitamente potente, de um sentir intuitivo construído no presente é uma limitação? Recusar a repetição, quebrar os círculos, procurar a transformação ultrapassando a doutrina pedagógica, simplesmente porque tem que ser ultrapassada e o teatro no feminino terá essa capacidade de ultrapassar o que está fixado pelo tempo intrinsecamente masculino? Basta convocar a terceira síntese do tempo de Deleuze? Se, segundo Miguel Esteves Cardoso, Pascoes inventou o povo português, reinventemos a Arte performativa da Arte de Ser portuguesa! Invertemos e repensemos os papéis e os moldes da representação. Resgatemos o texto no tempo vazio, sem reescrever o texto, mas compondo-o com vozes:

na construção de uma constelação de teceduras

... exibir a contradição...

...performar os paradoxos...

...indolentemente activa...

...educadamente mal-educada...

...impacientemente paciente...

...calmamente agitada...

...saudosamente esquecida...

...valentemente cobarde...

...virtuosamente desonesta...

...

Ser mulher, e quiçá portuguesa, é estar no mundo por oximoros!

 

Então, no espectáculo à vista enquanto sacrifício, revisitado por Antígonas ou Efigénias contemporâneas, estaria reflectido, como que pelo olhar do acaso de um Acteon, assim como no espelho de um Narciso, o espectáculo diante dele próprio, profano por excelência, no sentido em que se encontra não só diante do espaço consagrado, mas é o seu próprio espectáculo. Enquanto o espectador seria convidado a se instalar no espaço, grandes superfícies de espelhos deslizantes revelariam o espectador ao espectador expectante enquadrado numa paisagem sonora cheia de vozes rugosas, cortadas de silêncios, convocando o sacrifício enquanto actor da heterotopia da saudade para entrar noutra heterotopia ainda em porvir.

 

Ana da Palma



[i] Sobre esta matéria, veja-se Yves Citton em «Lire, interpréter, actualiser. Pourquoi les études littéraires ?»: http://www.fabula.org/atelier.php?Lire_interpr%26eacute%3Bter_actualiser#_edn3

[ii] Teixeira de Pascoes (2007). A Arte de Ser Português. Lisboa: Assírio e Alvim.

[iii] Neste contexto, Cronos remete para o tempo cronológico.

[iv] Neste contexto, Tempus remete para o tempo não cronológico, com uma componente que diríamos ser de ordem psicológica e que, neste caso, implica determinadas actuações políticas, tal como decisões, constatações e aproveitamentos estratégicos da instabilidade social, política e económica.

[v] A estética da recepção convoca o papel activo do leitor através de uma inversão metodológica na abordagem literária. Permite uma leitura que envolve a relação entre o texto e o destinatário juntamente com a análise textual. O representante oficial da Escola de Constância, Hans-Robert Jauss, lança esta abordagem teórica com um texto publicado em 1967, intitulado A história da literatura como provocação e, mais tarde, com Para uma estética da recepção(1972)

[vi] Os mentores da estética da recepção foram Husserl e Heidegger, mas também os fenomenólogos e hermeneutas, como Roman Ingarden, que considerava que os textos permitiam ao leitor de chegar à consciência do autor, e H.G. Gadamer, que colocava a obra como dependendo da situação histórica do intérprete, posto que a obra não era um conjunto de sentido «acabado». Jauss considerou o problema da leitura do ponto de vista do impacto que uma obra alcançava ao longo do tempo, quer sobre o público, quer sobre a criatividade de outros autores. Para ele, não há existência histórica da obra sem a participação do seu sujeito leitor.

[vii] O leitor real é o leitor empírico ou o leitor concreto que a dado momento, independentemente do tempo ou do contexto, lê um texto. «O leitor empírico, ou real, identifica-se, em termos semióticos, com o receptor (...)» Vítor Manuel de Aguiar e Silva (1996:310). Teoria da Literatura. Coimbra: Livraria Almedina.

[viii] Segundo Silva (1996:310) «(...)o destinatário, enquanto leitor ideal, não funciona, em termos semióticos, como receptor do texto, mas antes como um elemento de relevância na estruturação do próprio texto.»

[ix] Leitor ideal é o leitor imaginado ou ambicionado pelo autor.

[x] Paratexto é um termo de Gérard Genette que indica o conjunto de textos que acompanham um texto principal. Neste caso trata-se de um paratexto autoral. Veja-se Gérard Genette (1987)Seuils. Paris: éditions du Seuil.

[xi] Palavra autoritária é um termo utilizado por Bachtin para referir a forma como massas de palavras se organizam em torno de um pequeno conjunto de palavras constituídas, por exemplo, por uma epígrafe. Veja-se Carlos Reis e Ana Cristina m. Lopes (1996) Dicionário de narratologia. Coimbra: Livraria Almedina.

[xiii] Veja-se o conceito de cidadania planetária proposto por Edgar Morin em Os sete saberes para a educação do futuro (2002) e Educar para a era planetária (2004)

[xiv] Abécédaire de Gille Deleuze (2004), Dir. Pierre-André Boutang, France.

[xv] José Gil (2005). Portugal, hoje. O medo de existir. Lisboa: Relógio d’Água Editores

[xvi] António José Saraiva (1996). A cultura em Portugal. Teoria e história. Livro 1. Introdução Geral à Cultura Portuguesa. Lisboa: Gradiva Publicações.

[xvii] Sobre esta questão veja-se Edgar Morin (2002: 27)

[xviii] Veja-se Jacques Rancière (2010) O espectador emancipado. Lisboa: Orfeu Negro.

[xix] "Les hétérotopies" e "L'utopie du corps" duas conferências radiofónicas transmitidas por France Culture, a 7 e 11 de Dezembro de 1966, no programa de Cultura francesa de Robert Valette.

© INA - Institut national de l'audiovisuel, 1966 : http://www.youtube.com/watch?v=lxOruDUO4p8

[xx] Gilles Deleuze (2005 [1968]). Différence et répétition. Paris : PUF.

[xxi] Op.Cit., capítulo II «La répétition pour elle même».

[xxii] Uma das versões do mito.

[xxiii] Veja-se Martin Heidegger(1959). Qu’appelle-t-on penser. Paris : PUF.

[xxiv] Walter Benjamin (2000). Oeuvres III. Paris: Gallimard.

O Teatro resiste?

O Teatro resiste a quê?

 

 

O teatro é o lugar onde uma acção é conduzida ao seu acabamento por corpos em movimento frente a corpos vivos que se trata de mobilizar. (RANCIÈRE, 2010:10)

 

No Abecedário, quando se chega à letra «R», Gilles Deleuze diz que cada vez que se cria algo, estamos a resistir e consequentemente o filósofo, criando conceitos, resiste; o cientista, criando funções, resiste e o artista também resiste. Coloco-me a mesma pergunta que Claire Parnet faz ao filósofo, mas, no campo do Teatro. Se a função do Teatro é de resistir, então o Teatro resiste a quê?

Voltei ao livro de Agamben intitulado Qu’est-ce qu’un dispositif (2007), e, ao reler, parece-me quase evidente e fácil responder que o Teatro resiste ao dispositivo. Agamben revisita e aprofunda a definição de dispositivo formulada por Foucault em Dits et écrits. O filósofo italiano resume a definição em três pontos principais (2007:10-11): primeiro, como «uma rede entre elementos heterogéneos (leis, edifícios, discursos, enunciados, medidas policiais...»; segundo, «o dispositivo tem uma função estratégica concreta e inscreve-se sempre numa relação de poder»; e, terceiro, «como tal resulta do cruzamento das relações de poder e de saber». Mas Agamben acrescenta que o dispositivo implica uma governança, cujo objectivo é de «orientar, governar e controlar as actividades dos seres humanos». Agamben escreve que a governança, exercida pelos dispositivos, não tem fundamento no ser, portanto os dispositivos deveriam de implicar um fenómeno de subjectivação: «Devem produzir o seu sujeito» (2007:27). Contudo, na situação de capitalismo neoliberal em que vivemos e a que estamos submetidos, os dispositivos não permitem a criação de um novo sujeito, «excepto sob a forma de larva (...) espectral» (2007:44) e conclui que há que «intervir nos processos de subjectivação, assim como nos dispositivos» (2007:50). Há um aspecto referido por Foucault que Agamben não convoca no seu resumo de dispositivo em três pontos. Foucault considera o «dispositivo como a formação que, a dado momento,  teve por maior função responder a uma urgência», e é desta «urgência» que se constrói a relação de poder.

Agrada-me a ideia de que a função da arte é de resistir, mesmo se, no Abecedário, Deleuze não é muito claro ao dizer a que é que a arte resiste. Evoca os «discursos comuns» e fala do ritmo do artista de uma forma vaga. Seguindo o caminho traçado pelo conjunto destas palavras e conceitos: resistência, urgência/poder e dispositivo, agrada-me a ideia de que a arte se possa construir numa urgência, independentemente do tipo de urgência, e que resista aos dispositivos. Como o Teatro também é uma instituição, um discurso, um enunciado, já constitui um dispositivo e ao resistir ao dispositivo cria outro dispositivo, estamos em pleno paradoxo, excepto se, como indica Rancière (2010:15), voltarmos a examinar no teatro «a rede de pressupostos, o jogo de equivalências e de oposições que sustenta a possibilidade de tais princípios: equivalências entre público teatral e comunidade, entre olhar e passividade, exterioridade e separação, mediação e simulacro; oposições entre o colectivo e o individual, entre a imagem e a realidade viva, a actividade e a passividade, a posse de si e a alienação» e reflectirmos sobre o Teatro, enquanto instituição, à luz do próprio dispositivo que constitui. Então como é que o dispositivo criado pelo Teatro difere do outro dispositivo? Como é que se concretiza a resistência do Teatro? Pelo paradoxo?

Tentei lembrar-me de exemplos recentes de resistência no teatro. Como é natural, dada a minha posição geográfica, só me veio à memória no teatro ocidental momentos da Segunda Guerra Mundial. Lembrei-me de Antígona, de Anouilh, uma peça representada em 1944 e constituindo uma forma de falar da resistência francesa encorpada na personagem feminina de Antígona, mulher emblemática, saída do mundo grego de Ésquilo e Sófocles, representando a resistência, a infracção da lei e a coragem. Mas também duas peças de Sartre, Les Mouches, uma peça criada a 2 de Junho de 1943 e representada no «Théâtre de la Cité», antigo Teatro Sarah-Bernhardt, cujo nome foi suprimido pelos alemãs durante a ocupação, devido à sua judeidade, e hoje chamado «Théâtre de la Ville» e Huit clos, uma peça criada a 27 de Maio de 1944. Estas duas peças de teatro convocavam a actualidade da ocupação para o palco parisiense de uma forma disfarçada. Mais recentemente, no palco portuense, Arte de ser... – Imprecação a Teixeira de Pascoes, uma peça de Inês Leite, que considero como teatro de resistência, sendo uma reescrita feminina de A Arte de ser Português de Teixeira de Pascoaes. Nestes casos, o Teatro, concebido como resposta a uma urgência, resiste ao dispositivo de uma ocupação, quer seja de um território concreto, quer seja de um território abstracto, mas, em ambos os casos, o/a artista traz o seu corpo e oferece outro corpo ao palco.

No caso palestino, com a vinda do Teatro Istanbouli ao Porto, com os trabalhos da Alrowwad do campo de refugiados de Aida em Belém e do Freedom Theater em Jenine, o Teatro, enquanto espectáculo, como enquanto organização, desempenha várias funções. Por um lado, trata-se de resistir aos dispositivos sionistas, resistir ao pensamento comum divulgado através dos media dominantes, trabalhar o corpo da humanidade profundamente partilhada e expor o corpo da dor dos oprimidos pelos dispositivos.

Entre a «indagação distante» proposta por Brecht e a «participação vital» do teatro da crueldade de Antonin Artaud, resta-nos a forma comunitária como ponto de encontro entre o dramático e o épico. A componente dramática do teatro palestino convoca a História de um povo que se encontra, no afinal de contas, no telejornal, enfim, pelo menos em alguns (PressTV, Aljazeera, RT) já que os media ocidentais raramente relatam os acontecimentos na Palestina. A componente épica convoca a luta pelos direitos consagrados que têm sido espezinhados desde 1948. Resta-nos encontrar e construir a forma comunitária!

Ana da Palma (Folhas Soltas nº 3)

 

 

 

 

Divulgação Teatro Ensaio : A Arte de Ser. Imprecação a Teixeira de Pascoaes de Inês Leite

Estreia Nova Criação

 

Apresentações:

Dia 19 de Setembro de 2013, 21h30.

Local: Teatro Carlos Alberto, Porto.

Este espectáculo terá a sua estreia absoluta no Teatro Carlos Alberto, Porto, inserido no Corrente Alterna – Mostra de Criações Incógnitas, Linha de Programação Resistor (uma coprodução Cia Erva Daninha e Teatro Nacional São João)

Informações e Reservas: 800 10 86 75 ou bilheteira@tnsj.pt 

(PVP: 10,00€)

 

De 20 a 29 de Setembro de 2013, 21h30 (de quinta a domingo).

Local: Blackbox, Cace Cultural do Porto, Porto.

Produção: TEatroensaio

Informações e Reservas: 918626345 ou teatroensaio@gmail.com 

(PVP: 5,00€)

 

Ficha Artística:

Peça escrita a partir da obra de Teixeira de Pascoaes: “Arte de Ser Português”

Texto Dramatúrgico Original: Inês Leite

Encenação e Concepção Plástica: Inês Leite

Interpretação: Inês Garrido

Desenho de Luz: Francisco Tavares Teles

Desenho de Som e Música original: Romeu Guimarães

Voz off: Pedro Estorninho

Apoio Pesquisa Dramatúrgica: Ana da Palma

 

Mais informação:

SITE: http://teatroensaio.wix.com/teatroensaio

BLOGUE: http://www.teatroensaio-teatreia.blogspot.pt/

Divulgação: Pássaro de Papel

Datas: 14 e 15 de Julho de 2012 as 16h30

Local: Auditório da Quinta da Caverneira, Águas Santas 

(Av. Pastor Eduardo Joaquim Machado 4425-435 Águas Santas Maia)

M/6
Duração: c.50'


Informações e Reservas: 939478384 ou 222084014
Bilhetes: 5€ (normal) e 3,50€ (menores de 12 anos).

 

 


Sinopse:
Esta história começa com uma menina. Uma menina muito triste e aborrecida, por se sentir sozinha e não ter nada para fazer. Uma menina farta das histórias do costume...
Depois de muitos suspiros de tédio e alguns berros de aborrecimento, aparece um avião de papel mensageiro em mensagem expresso. Dizia: pinta-me uma história... 


Ficha artística:

Texto e Encenação: Inês Leite
Interpretação: Cristovão Carvalheiro e Catarina Ribeiro
Desenho de Luz: Romeu Guimarães
Cenografia e Design Gráfico: TEatroensaio

Antígona no TNSJ

 

Antes do espectáculo
(Alice no Céu do TNSJ antes do espectáculo)

 

 

Na penúltima noite de Antígona de Sófocles no Teatro Nacional de São João .

Uma sala cheia.

Um cenário feito por painéis de cortiça que em função das variações de luz ora pareciam suaves como mantos de seda, ora rudes, ásperos, cinzentos como granito.

Sonoplastia muito bem orquestrada com as vozes.

O corpo do coro em sintonia entre palavras ditas e espaços ocupados.

Um Creonte gigante, poderoso que fica pequeno e derrotado.

Uma Antígona tecnicamente perfeita, mas a quem faltava a força da doçura na voz.

Uma Ismena...

Sobre Infernos de Amor e de Morte

A leitura encenada de A Pluma é a minha charrua, título do futuro espectáculo que partiu de um texto de 1401, intitulado, O Lavrador da Boémia, de Johannes von Tepl , foi uma iniciativa inovadora e enriquecedora do Teatro da Rainha. Inovadora porque, nunca tive a oportunidade de assistir a tal coisa nas Caldas da Rainha, porque vi a forma como tal proposta pode aproximar os cidadãos num espaço de criação artística, onde o diálogo cria e gere ideias, onde se formam laços imprescindíveis para uma maior compreensão do mundo, como da relação entre o teatro e o espectador. Enriquecedora porque, saí com a nítida e duradoura sensação de ter participado a algo de bom e de produtivo. Crescemos sempre um pouco mais por dentro nestas ocasiões!

 Quanto à escolha do texto, penso que foi oportuna, porque são temas muito actuais que se encontram frequentemente deturpados na sociedade em que vivemos. A tradução de Isabel Lopes é como sempre perfeita. Há que realçar que se trata de um texto de 1401 e o trabalho do tradutor é uma labuta importantíssima ao longo do tempo e dos anos, é a única que pode dar a conhecer textos acompanhando a evolução dos tempos e da linguagem.

Quanto à escolha do tema, revela novamente a consistência da procura do Teatro da Rainha, porque mais uma vez é representativa das suas grandes preocupações, que além de conceber o teatro como um divertimento que é, procura dar pistas para pensar. Não saímos imunes, não saímos numa “bolha esterilizada e esterilizante ”. Saímos mais fortes e mais fracos como somos, mas com algo mais, algo profundamente nosso que foi questionado. Este último aspecto é o trabalho mais ingrato na nossa sociedade tão acostumada a sensações efémeras e virtuais, rapidamente assimiláveis, com um processo de digestão artificial e com o poder supersónico do desaparecimento, porque não interessa a ninguém pôr os cidadãos a pensar, apesar de ser o mais difícil e o mais intimamente gratificante.

Não penso que o teatro da Rainha precisa de demonstrar que sabe manipular e utilizar as novas tecnologias, simplesmente porque sempre o fez de forma harmoniosa e não me parece ser o aspecto pelo qual devemos exercer a nossa capacidade de julgar, simplesmente porque o uso de efeitos especiais podem abafar o verdadeiro trabalho do texto e aquilo que o texto deve provocar. Por isto tudo agradeço ao Teatro da Rainha.

Entrei num espaço em construção em torno de todas as afinidades, porque são tantos os amores do Amor, e todas as finitudes, porque são numerosas as mortes polvilhadas no nosso caminho para chegar até à nossa própria Morte: o Amor e a Morte. Tanto o Amor como a Morte são um dueto, em que apenas está presente a lembrança do Amor, e este canto está orquestrado de forma sensível, subtil e harmoniosa, nas relações entre o palco e o espectador. Estas são o diálogo entre o Lavrador e a Morte, respectivamente representado por Fernando Mora Ramos e personalizada e representada por António Durães, como um todo realçado pela música de Carlos Alberto Augusto, que se alia aos silêncios e às sensações produzidas pelo próprio texto de uma grandeza, justeza e de um poder arrebatador. A música alimenta-se de dois espaços em simbiose, tornando-os próximos, o espaço circular em que se movem os actores e o espaço em torno do círculo criado pelo cenário de António canelas em que se encontram os quadros de João Vieira e os espectadores.

Entramos nos círculos de Dante pela própria temática, como pela disposição do conjunto físico do cenário: um poço, um buraco, um precipício que durante a leitura não nos leva para o fundo, mas eleva-nos estranhamente, pelo poder e actualidade das palavras; uma disposição de quadros apresentados pela própria morte ao longo da representação que inicia o nosso olhar, orientado por um raio de luz, que nos indica o caminho da leitura da própria vida, tecida pelos fios das três parcas, subtilmente aliados e definitivamente cortados, segundo uma lei que não conhecemos e que não responde às leis do Amor. O texto introdutório aponta para a intertextualidade desde Dante a António Quadros pintor, passando por Neruda, remetendo para todas as outras possibilidades que cria o intertexto. Isto remete para a vida em geral, parafraseando um teórico francês Roland Barthes, o intertexto é isso mesmo, desde o livro, o jornal diário até ao ecrã de televisão e tecemos laços com o nosso quotidiano, o nosso viver, esses laços simultaneamente simples e complexos entre o Amor e a Morte. Foram tantos os homens que desceram aos infernos em busca do seu Amor. Pensámos em Orfeu, poeta cujo canto foi aniquilado na cabeça cortada. Orfeu que perdeu Eurídice com um simples olhar. É sempre injusto o desaparecer, é sempre injusta a Morte para o Outro. São círculos em espiral dos quais não se sai e em que a música e o espaço acompanham a respiração dos actores e dos espectadores de forma harmoniosa e sentida.

 

Ana da Palma, Gazeta das Caldas 25/01/08

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