Tradução: Os Últimos dos Semitas por Joseph Massad
Os Últimos dos Semitas
E aqui na tradução francesa: http://www.info-palestine.eu/spip.php?article13571
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E aqui na tradução francesa: http://www.info-palestine.eu/spip.php?article13571
Vi a notícia no Aljazeera na segunda-feira 16/01/13.
A forma como foi divulgado este projecto apelava a candidaturas, do género: «Tens mais de 18 anos, falas inglês, és uma pessoa equilibrada...Podes candidatar-te para ser selecionada/o a passar o resto da tua vida em Marte!»
Todo o projecto será subsidiado por um «reality show»
Estou perplexa, pela dimensão mediática deste projecto, pela forma como a vida do ser humano é considerada neste projecto e pelos contornos que o todo pode vir a ter...
mais aqui: http://mars-one.com/en/
Hoje, às 21 horas no Gato Vadio (Rua do Rosário 281 - Porto) com ALPHAVILLE (1965) DE GODARD
Recentemente, o Presidente Obama impôs novas sanções ao Irão que, de acordo com os relatórios, foram bastante efectivas, provocando uma súbita desvalorização da moeda do Irão. Os iranianos compreendem bem que estão a ser atacados e têm respondido ameaçando fechar o estreito de Ormuz, pelo qual uma grande percentagem de petróleo do Médio Oriente transita para a economia global.
Se a crise se aprofundar e se o Irão faz bem em fechar o estreito de Ormuz, restam poucas dúvidas de que os E.U. irão intervir para reabrir o estreito. Isto terá como consequência uma guerra pela qual o Irão será responsabilizado, mesmo se as recentes sanções dos E.U correspondem a uma óbvia agressão.
Eu acredito que os E.U. irão explorar a situação para atacar as instalações nucleares do Irão. Mais, ainda mais grave, os E.U. irão alvejar os mísseis convencionais do Irão. Na realidade, acredito que isto constitui a verdadeira razão das sanções e a escalada das recentes tensões. Apesar da percepção pública e toda a retórica em torno das armas nucleares, a crise actual não tem nada a ver com o suposto programa nuclear do Irão. Na minha opinião, não passa de um disfarce.
O verdadeiro problema reside no facto que o Irão equipou os seus mísseis convencionais de médio alcance com a tecnologia GPS, tornando-os mais precisos. Isto significa que agora o Irão pode alvejar a reserva nuclear de Israel, as armas biológicas e químicas situadas no território israelita assim como o reactor nuclear de Dimona.
Resumidamente, o Irão conseguiu alcançar uma forma convencional de dissuadir Israel. Por conseguinte, as declarações de oficiais iranianos, dizendo que o Irão não possui um programa de armas nucleares, são, a meu ver, provavelmente correctas. Actualmente, o Irão não precisa de armas nucleares para dissuadir Israel. Pois, pode fazê-lo com os seus mísseis de médio alcance guiados por GPS. Os israelitas bem podem ranger os dentes, posto que se encontram agora ameaçados pelo seu próprio arsenal de armas de destruição massiva e seus próprios reactores nucleares, especialmente Dimona, todos sendo agora possíveis alvos.
Alguns ataques directos pelo Irão provocariam emissões tóxicas, matando milhares de israelitas. No pior dos casos, anunciariam o fim do estado judeu.
É importante perceber que o Irão nunca iria iniciar um ataque preventivo sobre Israel, porque os iranianos sabem que a resposta dos E.U./Israel seria devastadora. Contudo, se o Irão for atacado em primeiro, está tudo perdido. O Irão defender-se-á. Um contra-ataque a Israel não pode ser excluído, porque os dirigentes iranianos percebem claramente (mesmo se o povo Americano não percebe) que a crise foi fabricada a favor de Israel.
Do ponto de vista israelita, o actual poder de dissuasão iraniano (mesmo sendo convencional) é inadmissível. Os estrategas militares israelitas sempre insistiram numa liberdade total de movimento. É por isso que, há uns anos atrás, os israelitas recusaram a oferta Americana de assinarem um pacto de defesa com os E.U. um semelhante tratado teria limitado a liberdade de movimento de Israel e não era aceitável. Os dirigentes israelitas preferiram permanecer independentes. Israel sempre insistiu na «liberdade» de poder intimidar os seus vizinhos, quando e como lhe apetecesse. Agora, os mísseis convencionais iranianos restringem essa «liberdade». Provavelmente, os oficiais israelitas preocupam-se, por exemplo, de que, no conflito futuro, os mísseis convencionais iranianos limitariam a sua liberdade de poder atacar o Hezbollah no Líbano. O Hezbollah é aliado próximo de Teerão.
Acredito que a crise actual foi fabricada no sentido de criar um pretexto para os E.U. lançarem uma campanha aérea com a finalidade de eliminarem os locais onde se encontram os mísseis convencionais iranianos. Os E.U. também irão alvejar as instalações nucleares iranianas, mas os alvos principais serão os mísseis convencionais. Os E.U serão o pau mandado de Israel. A cauda sionista abanará diante do cão americano subserviente.
Obviamente que não se pode obter o apoio do público para semelhante campanha de bombardeamento a favor de Israel. Daí a história de fachada em torno das armas nucleares e a suposta ameaça de que o Irão quer apagar Israel do mapa, tudo isto sendo claramente mentira, mas constitui uma propaganda muito eficaz.
O problema para os E.U. reside no facto de que privar o Irão das suas armas convencionais de dissuasão, não será uma tarefa fácil de cumprir. Na verdade, será ainda mais difícil do que eliminar todas as instalações nucleares iranianas. Os mísseis convencionais iranianos estão provavelmente amplamente dispersos. Se se encontrarem sob ataque, o objectivo de uma campanha aérea será obviamente transparente para os dirigentes iranianos. Confrontados com a possibilidade de perderem o seu poder de dissuasão, os Mullahs podem perfeitamente decidir utilizar os seus mísseis convencionais. Se assim o fizerem e se conseguirem atingir directamente o arsenal nuclear, biológico e químico de Israel, o desastre subsequente levará a uma resposta rápida de Israel. Israel até poderá recorrer à Opção Sansão e atacar o Irão com armas nucleares. As palavras não podem descrever a dimensão do horror de semelhante resultado. Infelizmente, é tudo demasiado possível.
No início de um conflito, as forças navais dos E.U no Golfo serão atacadas. Não há equívoco possível, o Irão tem mísseis anti-navios suficientes para ser uma verdadeira ameaça para a presença naval dos E.U no Golfo. Milhares de marinheiros americanos estão agora em perigo.
Devemos nos unir para evitar semelhante conflito. Agora, os activistas pela Paz devem pôr em andamento todos os nossos trunfos a favor da Paz. O povo Americano deve saber a verdade. É uma falsa crise. Contudo, o perigo é autêntico. Chegou a hora de dar força à nossa voz. Amanhã poderá ser demasiado tarde.
Fonte do artigo: http://sabbah.biz/mt/archives/2012/09/22/iran-real-story/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+SabbahsBlog+%28Sabbah+Report%29
Publicado terça-feira 4 de Setembro de 2012 em Common Dreams
Os E.U. e Israel, Não o Irão, Ameaçam a Paz
Por Noam Chomsky
Não é fácil mudar de pele e tentar ver o mundo de forma diferente daquela que nos é apresentada dia após dia. Mas é útil experimentar. Vejamos alguns exemplos.
Os tambores da guerra soam cada vez mais forte sobre Irão. Imaginem esta situação totalmente inversa:
O Irão está a empreender uma guerra mortífera e destrutiva de «baixo nível» contra Israel com uma grande força de participação. Os seus dirigentes anunciam que as negociações não levam nenhures. Israel recusa-se em assinar o Tratado de não proliferação e permite uma inspecção, tal como o fez o Irão. Israel continua em desafiar o esmagador pedido internacional por uma zona livre de armas nucleares na região. Por todas partes, o Irão goza do apoio do seu protector todo-poderoso.
Portanto, os dirigentes iranianos estão a anunciar a sua intenção de bombardear Israel e proeminentes analistas militares iranianos informam que o ataque pode acontecer antes das eleições nos E.U.·
O Irão pode utilizar a sua potente força aérea e os novos submarinos enviados pela Alemanha, armados com mísseis nucleares e estacionados na costa de Israel. Independentemente da agenda, o Irão está a contar com o seu todo-poderoso apoiante para juntar-se ou até dirigir a agressão. Leon Panetta, secretário da defesa dos E.U., diz que enquanto não favorecemos um tal ataque, o Irão, enquanto país soberano, agirá segundo os seus interesses.
Claro que tudo isto é inimaginável, ainda que esteja a acontecer de facto, mas com uma repartição de papéis inversa. Certo, as analogias nunca são exactas, e estas são injustas para com o Irão.
Tal como o seu protector, Israel recorre à violência tanto quanto lhe apraz. Persiste em construir colónias ilegais em território ocupado, alguns territórios anexados, tudo isto desafiando as leis internacionais e o Conselho de Segurança da ONU desavergonhadamente. Repetidamente, levou a cabo ataques brutais contra o Líbano e as pessoas encarceradas em Gaza, matando dezenas de milhares sem pretexto credível.
Há trinta anos, Israel destruiu um reactor nuclear iraquiano, um acto que foi recentemente louvado, evitando a forte evidencia, mesmo por parte dos serviços de inteligência dos E.U., que o bombardeamento não acabou com o programa de armas nucleares de Saddam Hussein mas que lhe deu início. O bombardeamento do Irão poderia ter o mesmo resultado.
O Irão também levou a cabo agressões – mas durante cerca dos últimos cem anos, foi sob o regime do Xá, apoiado pelos E.U, quando conquistou ilhas árabes no Golfo Pérsico.
O Irão envolveu-se em programas de desenvolvimento nuclear sob o Xá, com o forte apoio oficial de Washington. O governo iraniano é brutal e repressivo, como o são os aliados de Washington na região. O aliado mais importante, a Arábia Saudita, é o mais extremista regime islâmico fundamentalista e gasta fundos enormes para espalhar as suas doutrinas radicais Wahhabistas noutros lugares. As ditaduras do Golfo, igualmente aliadas favorecidas pelos E.U., têm severamente reprimido qualquer esforço popular para se juntar à Primavera Árabe.
O Movimento dos Não Alinhados – os governos da maioria da população mundial – encontram-se agora em Teerão. O grupo tem defendido vigorosamente o direito do Irão em desenvolver o urânio enriquecido e alguns membros, a índia, por exemplo, adere apenas parcialmente e sem convicção ao duro programa de sanções dos E.U.
Os delegados do NAM reconhecem sem dúvidas a ameaça que domina a discussão no ocidente, lucidamente articulado por Gen. Lee Butler, anterior dirigente do Comando Estratégico dos E.U.: «é extremamente perigoso, no caldeirão das animosidades a que chamamos o Médio Oriente,» que uma nação se dote de armas nucleares, «inspirando outras nações a fazer o mesmo».
Butler não se está a referir ao Irão, mas sim a Israel, que é considerado pelos países Árabes e pela Europa como sendo o maior perigo para a paz no Mundo Árabe, sendo que os Estados Unidos se encontram em segundo lugar, enquanto o Irão, apesar de não ser apreciado, está longe de ser temido. O facto é que muitos inquéritos indicam que uma maioria considera que a região seria mais segura se o Irão tivesse armas nucleares para equilibrar as ameaças intuídas.
Se o Irão está de facto a encaminhar-se para ter armas nucleares – o que ainda é desconhecido pelos serviços secretos dos E.U – pode ser porque está a ser “inspirado para fazê-lo” pelas repetidas ameaças feitas pelos E.U. e Israel em violação explícita da Carta das N.U.
Por que razão será que o Irão é visto como a maior ameaça à paz mundial no discurso oficial do Ocidente? A razão primária é reconhecida pelo exército e serviços secretos dos E.U. e seus homólogos israelitas: o Irão poderia dissuadir o recurso ao uso da força pelos Estados Unidos e Israel.
Além de mais, o Irão tem de ser castigado pelo seu «desafio bem-sucedido», que era a acusação de Washington contra Cuba há meio século, e ainda a força orientadora para a agressão dos E.U. contra Cuba que continua apesar da condenação internacional.
Outros acontecimentos apresentados nas primeiras páginas também podem beneficiar de uma perspectiva diferente. Suponhamos que Julian Assange tenha divulgado documentos russos revelando informações importantes que Moscovo quisesse esconder do público e que as circunstancias fossem de outro modo idênticas.
A Suécia não teria dúvidas em perseguir a sua única preocupação anunciada, aceitando a oferta de interrogar Assange em Londres. Declararia que se Assange regressasse à Suécia (tal como aceitou fazer), não seria extraditado para a Rússia, onde as possibilidades de um julgamento justo seriam improváveis.
A Suécia seria honrada por este apoio exemplar. Assange seria louvado por realizar um serviço público – que, naturalmente, não evitaria a necessidade de tomar as acusações contra ele tão seriamente como em todos os casos semelhantes.
Aqui, as notícias proeminentes são as eleições nos E.U. Uma perspectiva adequada foi proporcionada pelo Tribunal Supremo de Justiça dos E.U. Louis Brandeis, que sustentou que «Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter a riqueza concentrada nas mãos de uns quantos, mas não podemos ter ambos.»
Guiado por aquela ideia, a cobertura das eleições deveria centrar-se no impacto da riqueza na política, extensivamente analisada no estudo recente intitulado «Affluence and Influence: Economic Inequality and Political Power in América» por Martin Gilens. Este descobriu que a grande maioria é “impotente para configurar a política do governo” quando as suas preferências divergem da dos ricos, que no fundo obtêm o que querem quando lhes interessa.
Vem então uma pequena preciosidade, num recente ranking dos 31 membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico - em termos de justiça social - os Estados Unidos encontram-se no 27º lugar, apesar das suas extraordinárias vantagens.
Ou que o tratamento racional dos assuntos tem a tendência para se evaporar durante a campanha eleitoral, por vezes em jeito de comédia.
Para dar um exemplo, Paul Krugman informa que o muito admirado Grande Pensador do Partido Republicano, Paul Ryan, declara que as suas ideias sobre o sistema financeiro derivam de uma personagem de um romance de fantasia – “Atlas Shrugged” – que reclama o uso de moedas de ouro em vez de papel.
Só nos resta tirar ilações de um realmente brilhante escritor, Jonathan Swift. Nas “Viagens de Gulliver”, os seus sábios de Lagado carregam todos os seus bens com eles em pacotes às costas, e portanto podiam utilizá-los como moeda de troca sem os entraves do ouro. Então a economia e a democracia poderiam verdadeiramente florescer – e melhor ainda, a desigualdade diminuiria bruscamente, uma dádiva para o espírito da Justiça Brandeis.
© 2012 Noam Chomsky
Tradução Ana da Palma do original AQUI