Excerto de Balbuciar o ser
Excerto sobre linguagem... Heidegger no capítulo 34, intitulado DA-SEIN ET PAROLE. LA LANGUE de Être et temps[1].
(...)
Mas o capítulo sobre a língua e a palavra permanece curto e apenas encontra o seu eco, ou uma reflexão mais demorada, noutro livro escrito mais tarde: Acheminement vers la parole publicado em 1959. Contudo, no final deste capítulo Heidegger lança as perguntas fundamentais para um pensar filosófico sobre a língua: “En définitive, la recherche philosophique doit se décider à demander d’abord quel genre d’être revient en général à la langue. Est-elle un util utilisable intérieur au monde ou a-t-elle le genre d’être du Dasein ou bien ni l’un ni l’autre ? »[1]. Voltando a pôr em questão a comunicação se a língua é vista, considerada como simples instrumento de comunicação, tal como foi formulado pelos linguistas e, por outro lado, se a língua habita e é simultaneamente habitada no/pelo Dasein, ou nem uma coisa nem outra.
Aussi belle que la main de l’aimée sur la mer.
Aussi seule
Como se diz esta mão estendida sobre o mar, se os existências fundamentais do ser do aí são a disposibilidade e o entender[2], a disposibilidade sendo a abertura do ser ao mundo e o entender, considerado como verbo transitivo e reflexivo. Assim sendo, como reflexivo e transitivo, implica necessariamente que o verbo transita para algo, pede um complemento à direita do verbo, logo será o entender-se, o dar-se a entender e ainda, ou melhor, o dar-se a conhecer. Então a linguagem constitui o ser no mundo, isto é, a capacidade de ser para si e para o Outro no mundo. Então a mão estendida sobre o mar abre a palavra do poeta para o Outro e oferece-se como uma flor e os significados transformam-se em palavras em vez de serem as palavras - objectos a terem um significado.
[1] Martin Heidegger, Être et temps, Paris, Editions Gallimard, 1986, §34.
[2] Op.cit. §34, p. 207. A palavra entendre no texto em francês remete para dois planos, o ouvir e o perceber, criando uma certa ambiguidade, apesar de esta fazer todo o sentido. Várias aproximações são possíveis, estas são o que acontece quando: sem ouvir, um ouvir como faculdade fisiológica, não podemos intentar um perceber, agora tendo a faculdade de ouvir, podemos ouvir e não perceber, mas também podendo ouvir, isto é, tendo essa faculdade, podemos não ouvir e perceber ou não querer perceber. Todas estas sendas em torno de uma única palavra, sendo esta palavra, uma tradução do alemão para o francês, dificultam o comentário, podendo quiçá enriquecê-lo. Contudo vamos considerar a palavra entendre como entender, perceber. Até porque mais adiante no capítulo 34, Heidegger fala do ouvir, como o estar à escuta de...
...