![Porto 23:03:2020 Não me Covides Porto 23:03:2020 Não me Covides]()
Na língua de todos os dias os efeitos da pandemia pela covid 19 tem os seus impactos. Por um lado, verifica-se através do uso de vocábulos novos em tudo o que concerne o dia-a-dia, envolvendo os gestos barreira, o kit de protecção de que muita gente anda munida quando sai à rua: a máscara ou viseira recentemente obrigatória, as luvas e o gel hidroalcoólico, até ao cúmulo da hostilidade latente ou prudência covidiana no receio de falar com a(o) vizinha(o) ou sentir de forma premente uma noção confusa e difusa do espaço que nos distância, como se o(a) Outro(a) fosse à partida uma possível fonte ou vector de contaminação. Depois há os coronalouca(o)s obcecoronada(o)s pelas questões do distanciamento físico, o grau superior do distanciamento social, e que ocasionalmente no supermercado, passam por ti a ralhar porque há três pessoas naquele corredor e quer na passagem, quer na escolha de um produto é claro que é impossível manter os dois metros ou até metro e meio de distância, simplesmente porque a largura dos corredores não o permite, mas o que é fascinante é que a pessoa, ainda que ralhando, passa na mesma. Ando a matutar uma questão premente que me desatina a razão, pois pergunto-me qual é a verdadeira distância necessária quando andamos de máscara no corredor de um supermercado? Num passeio? Na quinta do Covelo? Num jardim qualquer? A verdade é que bem me podem rotular de covidiota, ou de coronaburra, mas não vejo a necessidade de andar de máscara quando vou à Quinta do Covelo ou a outro jardim às 7 da manhã sendo que, quando ocorre, até me cruzo a muito mais de dois metros de distância com quem quer que seja. Na primeira quarentena de 15 dias no Porto, a população praticou o coronaziamento ao armazenar compulsivamente produtos e alimentos, esvaziando as prateleiras como se o fim do mundo estivera ao virar da esquina. Nessa altura, já se andava a criar neologismos “Ó bófia não me covides!” foi inscrito numa parede. Noutra, no início de um confinamento que já indiciava as sementes da covidepressão ou de um deprimavirus, brincava-se com as palavras: “Não faça festas com 20 pessoas…Convid 19”. Rapidamente se criaram redes de recolha e distribuição de produtos e bens essenciais para as pessoas mais carenciadas, houve então grupos solidavid19 ou coronasolidarios. A verdade foi que ficar em casa todos os dias fez com que segunda era terça, era quarta, era quinta, era sexta, era sábado e domingo, os dias todos eram covidafeira ou coronafeira, não havia meio de distinguir mesmo em telescola ou teletrabalho já que os espaços se confundiram. Já não havia fora, tudo ficava dentro e até se podia andar de pijama ou algo parecido o dia inteiro. Os hipocondrifinados por vezes revelavam a sua paranoivirus de tanto trilhar o coronacirco das redes sociais, ou do telejornal. A infodemia levou-nos a consultar os números do dia anterior para saber quantas e quantos covidada(o)s, quantas e quantos descovidada(o)s. Com tanto distanciamento, perguntamo-nos como se chegou a conceber os que ainda sem saber já se chamam os corona boomers.
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