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ARESTAS

ARESTAS

Identidade: tradução de Sou Árabe de M. Darwich

Hoje, depois da leitura do belíssimo texto de John Berger no Le monde Diplomatique de Fevereiro, intitulado: Un lieu qui pleure ( «Um lugar em pranto» Le monde Diplomatique Edição portuguesa), título evocando as palavras de um poeta curdo  Bejan Matur e texto convocando outro poeta, o palestiniano Mahmoud Darwich, autor de Identidade

 

 

Mahmoud Darwich : Regista : Sou Árabe - Nouvel Obs
Uma leitura do célebre poema de Mahmoud Darwich "Identidade", com subtítulos em francês colocado no Daily Motion  pelo internauta "La Pierre et la Plume"

fonte:Video de obsvideo">obsvideo

Aqui vai uma tradução do poema:

Regista !

Sou Árabe

O número do meu BI : cinquenta mil

Número de filhos: oito

E o nono... Nascerá depois do Verão!

Estás furioso!

Regista !

Sou árabe

Trabalho na pedreira com os meus companheiros de dores

Tenho oito filhos

O pão deles

As suas roupas, os seus cadernos

Saem das pedras...

Oh! Não, não vou pedir esmola à tua porta

Não me encolho à entrada do teu palácio

Estás furioso!

Regista !

Sou árabe

Sem apelido – Sou, o meu nome

«Infinitamente paciente» num país onde todos

Vivem nas brasas da Raiva

Minhas raízes...

Cresceram antes do nascimento do tempo

Antes da efusão da duração

O meu pai...é de uma família de lavradores

Não tem nada a ver com os Senhores

O meu avô era camponês – um ser

Sem valor – nem ascendência

A minha casa, uma cabana de guardião

Feita de troncos e de caniços

Eis o que sou – Agrada-te?

Sem apelido – Sou apenas o meu nome.

Regista !

Sou Árabe

Os meus cabelos…. São da cor do carvão

Os meus olhos… São da cor do café

Sinais específicos:

Tenho sobre a cabeça um kefiya com um cordão apertado

E a palma da minha mão é dura como a pedra

...arranha quem a aperta

A minha morada:

Sou de uma aldeia isolada...

Onde as ruas ficaram sem nome

Regista!

Sou Árabe

Estás furioso!

Regista

Que sou Árabe

Que roubaste as vinhas aos meus pais

E a terra que cultivávamos

Juntos, eu e os meus filhos

Tiraste-nos tudo, excepto,

Para a sobrevivência dos meus netos

Estas pedras que aqui estão

Mas, ao que parece o vosso governo também as vai levar

PORTANTO

Regista

No frontispício da Primeira Folha

Que não sinto ódio pelos homens

Que não ataco ninguém mas,

Que se tenho fome,

Eu como a carne do meu Usurpador

Cuidado! Cuidado! Cuidado

com meu furor !

( In Chronique de la tristesse ordinaire, suivi de Poèmes Palestiniens, Paris, Les éditions du Cerf, 1989.Tradução do francês Jorge Delmar e Ana da Palma)

At Dawn 93

* * *

Aqui, nas subidas de fumo, nos degraus da casa

Não há tempo para o tempo.

Fazemos como aqueles que se elevam para Deus

Esquecemos a dor.


* * *

No estado de sítio, o tempo torna-se espaço

Petrificado na sua eternidade

No estado de sítio, o espaço torna-se tempo

Que perdeu o seu ontem e o seu amanhã.


* * *


Excertos de « Etat de siège » (Estado de sítio)

Um poema inedito de Mahmoud Darwich. Ramallah, Janeiro 2002

Por Mahmoud Darwich

Publicado no Le Monde Diplomatique

Traduzido do árabe (Palestina) por Saloua Ben Abda e Hassan Chami.Traduzido do francês por Ana da Palma

Tradução: O que é o Hamas

 

 

Por Alain Gresh, Quarta-feira 28 de Janeiro de 2009 - 20h:45, Les blogs du Diplo

 

O Hamas suscita, neste blogue e noutras partes, muito pavor e fantasmas, frequentemente fundamentados num desconhecimento do movimento, da sua história e das suas evoluções. Antes de chegar a esta reflexão, assinalemos que o Le Monde diplomatique de Fevereiro, em venda nos quiosques, dedica um suplemento de seis páginas aos acontecimentos de Gaza e às suas consequências na região.

Assinalemos também, que alguns colaboradores deste blog já reflectiram sobre o assunto, tal como a crónica escrita pelo príncipe saudita Turki Al-Fayçal no jornal diário britânico Financial Times, cujo eco é importante (« Saudi patience is running out », 22 de Janeiro), acusando o presidente Bush de ter deixado a região à desordem, alertando para o facto de que as iniciativas de paz podem já não estar na ordem do dia e que então a Arábia Saudita virará as costas ao ocidente, revelando que o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad escreveu uma carta ao soberano saudita Abdallah onde reconhece o papel orientador da Arábia no mundo muçulmano e rogando-o de tomar uma firme posição quanto aos massacres de Gaza.

O príncipe indica que « até agora o reino, não respondeu aos apelos, mas que cada dia que passa torna este silêncio mais difícil de explicar, enquanto Israel mata deliberadamente Palestinianos, se apropria das suas terras, destrói as suas casas, desenraíza as quintas e impõe um bloqueio desumano. (…) No final, o reino já não será capaz de impedir os seus cidadãos de participar no protesto mundial contra Israel»

Voltemos ao Hamas e lembremos os elementos da sua história. O Movimento da resistência islâmica (cujo acrónimo em árabe é «Hamas» e que significa «zelo») foi criado pela Sociedade da Irmandade muçulmana em Dezembro de 1987, no dia seguinte ao início da primeira Intifada. O Hamas desenvolve-se em primeiro em Gaza, que permanecerá o seu principal feudo antes de estender as suas actividades à Cisjordânia.

Porque é que a Irmandade muçulmana tomou a decisão de criar uma organização de combate? Após a derrota árabe de Junho 1967, a Irmandade muçulmana demorou vários anos para se reorganizar. Aproveita-se então da onda islamista emergente na região. Nos territórios ocupados, a Irmandade constrói uma rede de instituições sociais consistente à volta das mesquitas : jardins-de-infância, bibliotecas, clínicas, clubes desportivos, etc. Entre 1967 e 1987, o número de mesquitas passa de 400 a 750 na Cisjordânia, de 200 a 600 em Gaza. O Centro islâmico de Gaza, criado em 1973 e dirigido pelo Sheik Ahmed Yassine, torna-se o coração da Irmandade. A organização conta com o apoio importante do estrangeiro, nomeadamente da Arábia Saudita que lhe propicia meios consideráveis.

No entanto, apesar dos meios e dos trunfos, a Irmandade muçulmana sofre da sua passividade frente à ocupação durante os anos de 1970 a 1980. Apesar do objectivo ser a libertação da Palestina, dão maior importância à reforma da sociedade – dai a relativa inércia no combate nacionalista. Os serviços de informações israelitas percebem esta postura tão bem que revelam uma verdadeira brandura pela Irmandade, considerada como um contrapeso, bastante útil, à OLP. Em 1980, dá-se uma cisão no movimento : a jihad islâmica condena a passividade da Irmandade e envolve-se na acção violenta.

A decisão de criar o movimento do Hamas e de participar na Intifada revela uma verdadeira evolução da Sociedade da Irmandade muçulmana onde jovens militantes tiveram responsabilidades. O Hamas será muito activo durante a «revolta das pedras», não hesitando em ficar longe da direcção unificada que se reclamava da OLP. Muito bem estruturada, próxima dos indigentes, gozando da aura religiosa, o movimento afirma-se como um sério concorrente da Fatah e da OLP. Cria um ramo militar, as brigadas Ezzedine Al Kassam. Um episódio terá um papel importante na história do movimento : em Dezembro de 1991, o primeiro ministro israelita Itzhak Rabin expulsa 415 militantes para o Líbano. Estes regressarão, mas esta repressão aumenta a popularidade da organização e favorece os seus primeiros contactos com o Hezbollah.

O Hamas adopta a sua Carta, a 18 de Agosto de 1988. Reconhece a sua filiação com a organização da Irmandade muçulmana. O Hamas « considera que a terra de Palestina é uma terra islâmica waqf [1] para todas as gerações de muçulmanos até ao dia da ressurreição ». Enfim, apesar das rivalidades – e por vezes dos confrontos -, o Hamas declara sobre a OLP : « A nossa pátria é una, a nossa infelicidade é una, o nosso destino é uno e o nosso inimigo é comum. ». É essencialmente no que concerne a política e não a religião que o Hamas se opõe à OLP: retoma as teses dominantes na OLP antes de 1975, ou seja, a libertação de toda a Palestina. Finalmente o texto da Carta tem conotações anti-semitas, com uma referência ao Protocolo dos sábios de Sião (um documento falso criado pela polícia czarista no inicio do século XX) e também uma denúncia das «conspirações» das lojas maçónicas, dos Clubes dos Rotários e Lyons...

Estas anotações anti-semitas são condenáveis e amplamente condenadas. Temos que confessar que os delírios, nomeadamente sobre o Protocolo dos sábios de Sião, encontram-se frequentemente em alguns livros e artigos publicados no mundo árabe. Quando interrogados a este respeito, os dirigentes do Hamas afirmam que só se deve considerar a plataforma defendida durante a campanha de 2006 (ler abaixo) argumento que não é aceitável no que diz respeito ao protocolo de Sião.

Jean-François Legrain sublinha uma característica do Hamas:

« Um segundo contra-senso tende a fazer do Hamas um movimento nacionalista com um discurso religioso quando se trata fundamentalmente de um movimento de ressocialização religiosa, mas com uma agenda política. (…)o Hamas, mesmo que tivesse quase instantaneamente engolido  a Associação da Irmandade muçulmana, de que ao inicio apenas era o «braço», tinha, por razão de ser essencial no espírito de Sheik Yassine, somente a sua missão de da’wa (predicação activa do islão)à qual estavam estritamente subordinados o politico e o militar.  Várias vezes, a sua apreensão das relações de força com Israel e a Autoridade palestiniana conduziu o Hamas ao oposto da atitude de qualquer movimento de libertação nacional, a manter uma distância tanto com os militares (as diferentes tréguas de 1995, 1996 e destes últimos anos), como com os políticos (por exemplo e de forma surpreendente, no dia seguinte à ronda triunfal do Sheik Yassine no mundo muçulmano à sua saída de prisão em 1998). O Hamas voltou-se portanto para a rede associativa sujeita às suas exigências de mobilização moral, havendo apenas algumas células manifestando a sua desaprovação por iniciativas militares locais»

Segundo a lógica do seu programa político, o Hamas condena os acordos de Oslo assinados a 13 de Setembro de 1993. Mas a instalação da Autoridade palestiniana em Gaza em 1994 trouxe novos desafios à organização, dividida entre a sua retórica de libertação total da Palestina, a sua vontade de não provocar uma guerra civil inter-palestiniana e a sua determinação em preservar a sua rede associativa. O Hamas inicia um diálogo com Yasser Arafat. Este tendo o pão e o queijo na mão, multiplica as detenções e as intimidações enquanto mantém um diálogo com a organização e autoriza alguns dos seus órgãos de imprensa. No final de 1995, parece conseguir a participação do movimento nas eleições para o parlamento palestiniano de Janeiro de 1996, mas isto não é levado a cabo.

O assassinato de Itzhak Rabin em Novembro de 1995, a escalada entre as forças israelitas e o Hamas  - marcada por uma vaga de atentados suicidas no início de 1996 -, a extensão permanente da colonização, a vitória de Benjamin Netanyahou às eleições legislativas israelitas vão mudar os dados.  Apesar da vitória de Ehoud Barak nas eleições de1999, as negociações de paz fracassarão (em grande parte por causa do governo israelita ler « Le “véritable visage” de M. Ehoud Barak, Le Monde diplomatique, juillet 2002) e rebenta a segunda Intifada em Setembro de 2000.

A morte de Arafat, a eleição de Mahmoud Abbas como chefe da Autoridade e a convocação de novas eleições legislativas palestinianas em Janeiro de 2006 marcam uma nova etapa nos territórios ocupados. O escrutínio vai confirmar a evolução do movimento do Hamas para um maior pragmatismo. Enquanto tinha rejeitado os acordos de Oslo e todas as instituições relacionadas, o Hamas aceita participar nas eleições de Janeiro de 2006. Vários dos seus dirigentes, entre os quais o Sheik Yassine, assassinado pela armada israelita em 2004, afirmaram que aceitavam a criação de um Estado palestiniano sobre os territórios ocupados de 1967. O programa político defendido durante a campanha eleitoral não tem nada a ver com o conteúdo da Carta de 1988 (ler Paul Delmotte, « Le Hamas et la reconnaissance d’Israël », Le Monde diplomatique, janvier 2007).

É importante lembrar as duas razões que levaram os Palestinianos a votarem para o Hamas : a corrupção da Autoridade palestiniana (e portanto da Fatah) e, sobretudo o facto que a via escolhida pela Fatah em Oslo, aquela da negociação e do abandono da luta armada, tinha fracassado. O Hamas não está contra as negociações, mas pensa que devem ser acompanhadas por uma pressão militar (era a posição defendida por uma parte dos dirigentes da Fatah no início da segunda Intifada, nomeadamente por Marwan Barghouti).

Há vários meses que o Hamas tem multiplicado as suas declarações neste sentido. O antigo presidente americano Jimmy Carter encontrou-se com os dirigentes do Hamas em Gaza assim como com Khaled Mechaal, o chefe da secção política do Hamas em Damas. Carter escreve : Após longas conversações com os dirigentes de Gaza, os dirigentes do Hamas (em Damas) afirmaram que « aceitariam todo o acordo de paz negociado entre os Israelitas e a Autoridade palestiniana Mahmoud Abbas, que também dirige a OLP, com a condição de que este acordo seja aceite pelos Palestinianos por referendo ou por um governo de união nacional eleito». « An Unnecessary War » (Washington Post, 8 de Janeiro). Durante uma entrevista minha em Damas em Dezembro, Khaled Mechaal declarou : « O Hamas e as forças palestinianas ofereceram uma ocasião de ouro para trazer uma solução razoável ao conflito israelo-árabe. Infelizmente, ninguém aproveitou a ocasião, nem a administração americana, nem a Europa, nem o Quarteto. A nossa boa vontade confrontou-se à recusa israelita que ninguém tem a capacidade ou a vontade de superar. No documento de entendimento nacional de 2006 assinado com todas as forças palestinianas (excepto a jihad islâmica), afirmamos a nossa aceitação de um Estado palestiniano nas fronteiras de 4 de Junho de 1967, com Jerusalém por capital, sem colonatos e com a sujeição ao direito ao retorno (mawdou’). É o programa comum das forças palestinianas. Algumas querem mais, outras menos. Este programa tem três anos. Os Árabes querem algo semelhante. O problema está em Israel. Os Estados Unidos desempenham um papel de espectador nas negociações e apoiam as reticências israelitas. O problema não é portanto o Hamas, nem os países árabes: o problema é israelita. »

Porque é que o Hamas promove a violência ? O seu argumento principal é que a via da única negociação adoptada pela OLP em 1993 não resultou. Podemos também verificar que a Autoridade sob a direcção de Mahmoud Abbas, que negocia um acordo de paz desde 2005 não conseguiu fazer com que o governo israelita aceitasse a criação de um Estado palestiniano sobre todos os territórios ocupados em 1967 com Jerusalém por capital.

Finalmente, uma última observação acerca da violência contra os civis. Toda a morte de um civil é uma morte a mais. Mas se condenamos os rockets do Hamas, será que não deveríamos em primeiro condenar os crimes cometidos por um Estado organizado, membro das Nações Unidas? O terrorismo de Estado não será mais condenável do que qualquer terrorismo ? Lembro mais uma vez o que escrevia Nelson Mandela, evocando as suas negociações com o governo branco sul-africano e os seus pedidos para parar a violência, Nelson Mandela escreveu : « Respondia que o Estado era responsável da violência e que é sempre o opressor, e não o oprimido, que determina a forma da luta. Se o opressor usa da violência, o oprimido não terá outra hipótese senão responder com violência. No nosso caso, era apenas uma forma de legítima defesa. »

Podemos confiar no Hamas, enquanto a sua carta não for ab-rogada? Lembremos que a mesma pergunta foi feita à OLP e a Yasser Arafat e que os acordos de Oslo foram assinados antes da anulação oficial da carta pelo Conselho nacional palestiniano. Durante duas décadas, Israel e os Estados Unidos recusaram qualquer contacto com a organização por causa disso e pretendendo que era uma organização terrorista; naquele momento este ostracismo foi recusado pela França e muitos países europeus.  

A União europeia e os Estados Unidos impõem três condições ao diálogo com o Hamas : que reconheça o Estado de Israel ; que renuncie à violência, que reconheça os acordos de Oslo. Mas é necessário sublinhar duas questões : porque é que o diálogo com o governo israelita não está submetido às mesmas condições? Porque é que Israel não reconhece um Estado palestiniano nas fronteiras de 1967 ? Porque é que não renúncia à violência? Porque é que construiu colonatos nos territórios ocupados violando os acordos de Oslo (e do direito internacional)?

Por outro lado, se pensamos que o Hamas deve evoluir, como fazê-lo se nos recusamos ao diálogo? Não terá sido o diálogo europeu com a OLP que permitiu avançar?

Para saber mais

Remeto para as notáveis reportagens feitas para o Le Monde diplomatique há mais de quinze anos sobre esta organização por Wendy Kristianasen, encontra-se disponível no CDrom do Monde diplomatique ; assim como para as análises Jean-François Legrain, nomeadamente o texto distribuído na sua audição à comissão dos negócios estrangeiros do Senado a 14 de Janeiro, « Gaza : des guerres dans quelles perspectives ? ». Podeis igualmente ler a interessante entrevista, entretien avec Ali Jarbawi (PDF) no sítio da revista Confluences Méditerranée.

Finalemente, o livro de Khaled Hroub, Le Hamas (Demopolis) é a única obra séria em francês sobre a organização.

 

Alain Gresh

 [1] Bem inalienável.

27 Janeiro 2009 - Les blogs du Diplo

 
Fonte :
http://blog.mondediplo.net/2009-01-27-Qu-est-ce-que-le-Hamas

Tradução do francês: Ana da Palma

 

 

Acordar com o peso do mundo

Esta manhã acordei muito cedo a pensar na questão de Guantánamo. Não faz sentido nenhum! Procurei saber um pouco mais sobre este assunto e fui parar ao The Guatánamo Docket no The New York Times (  http://projects.nytimes.com/guantanamo ). Pelo que parece estão todos registados nestas páginas. Fiquei a saber que cinco prisioneiros tinham morrido em detenção, não se sabe como, excepto que um  morreu naturalmente e vem mencionado que foi o primeiro, dos outros não nos dizem nada... o que é curioso é que três morreram no mesmo dia: 10 de Junho de 2006 (Ali Abdullah Ahmed, Mana Shaman Allabardi al Tabi, Yasser Talal al Zahrani). Segundo um artigo do Le monde, haveria cerca de 60 detidos, agora considerados como inocentes que seriam torturados se regressassem ao seu país de origem.  Seria portanto para acolher alguns destes detidos inocentemente que os países europeus se disponibilizaram? É incrível como pessoas podem ser detidas tanto tempo, sem processo, sem uma acusação fundamentada e depois não poderem regressar ao seu país, às suas vidas, às suas famílias...o que é que há por detrás disto? Como é possível isto acontecer? Como vai ser a vida destes homens?

 

Obrigada a Jorge Delmar no Refluxo

Tradução:Em Israel, a norma é um desapego da realidade

Em Israel, a norma é um desapego da realidade

Terça-feira 27 Janeiro 2009 - 05h:42

Patrick Cockburn - The Independent

Vi o soberbo documentário de animação «Valsa com Bashir» sobre a invasão israelita do Líbano em 1982. O filme atinge o seu auge com o massacre de cerca de 1700 palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila a sul de Beirut. A armada israelita introduziu as milícias cristãs nos campos e ficou por perto para seguir a carnificina.

Pouco tempo antes do fim do filme, passa-se do desenho animado a imagens da actualidade em que mulheres palestinianas gritam de dor e de horror quando descobrem os corpos cobertos de balas dos seus parentes. E, mesmo atrás das mulheres, estou eu com um pequeno grupo de jornalistas que chegou ao campo pouco depois do fim da matança.

O filme conta a história do seu realizador, Ari Follman, que sabia que tinha estado em Sabra e Chatila enquanto soldado israelita e que procura saber porquê recalcou toda lembrança do que lhe aconteceu e o grau de cumplicidade israelita no massacre.

Quando sai do cinema, apercebi-me que eu também tinha recalcado as minhas memórias desse dia horrível. Nem encontrei o artigo que escrevi sobre o assunto para o « Financial Times » onde trabalhava naquele tempo. Mesmo agora, tenho a memória enevoada e fragmentada, apesar de me lembrar nitidamente do enjoo do cheiro açucarado dos corpos em estado de decomposição, das moscas aglutinadas à volta dos olhos de mulheres e de crianças mortas, dos membros e das cabeças sangrentos erguendo-se da terra atirada pelos bulldozers numa vaga tentativa para cobrir os corpos.

Pouco depois de ter visto «Valsa com Bashir», vi na televisão imagens dos corpos dos palestinianos quebrados pelas bombas e os mísseis israelitas em Gaza no 22º dia de bombardeamento. Ao início, pensei que pouca coisa tinha mudado desde Sabra e Chatila. Mais uma vez, dizia-se a mesma desculpa insultante, segundo a qual, de qualquer forma, Israel não tem culpa. O Hamas utilizava civis como escudos humanos e de qualquer forma – um argumento lançado furtivamente – os dois terços da população de Gaza tinha votado pelo Hamas e mereciam o que lhes estava a acontecer.

Mas, de regresso a Jerusalém, dez anos após ter trabalhado como correspondente para o jornal « The Independent » de 1995 a 1999, constato que se Israel mudou muito, foi para pior. Há muito menos contestação que antes e a contestação é agora considerada como sendo uma forma de deslealdade.  

A sociedade israelita sempre viveu fechada sobre ela própria, mas estes dias lembra-me mais do que nunca os unionistas da Irlanda do Norte no final dos anos 60, ou os cristãos libaneses dos anos 70. Tal como Israel, tratava-se de sociedades animadas por uma mentalidade de sítio que os levava sempre a identificarem-se como vitimas, mesmo quando eram elas a matar os outros. Não havia remorsos e nem se sabia o que se infligia ao outro, consequentemente todas as represálias da outra parte eram consideradas como uma agressão não provocada, inspirada pela cegueira do ódio.

Em Sabra e Chatila, o primeiro jornalista a ter descoberto o massacre foi um israelita que tentou desesperadamente fazê-lo parar. Não se passa assim hoje em dia, porque a entrada em Gaza antes do início do bombardeio israelita foi proibida aos jornalistas israelitas e a todos os jornalistas estrangeiros. Assim foi muito mais fácil para o governo fazer acreditar na versão oficial de que a operação foi um êxito.

Ninguém acredita mais na propaganda do que aquele que a propaga e é assim que Israel vê o mundo exterior de uma forma cada vez mais despegada da realidade. Um universitário teria dito que a opinião dos árabes sobre o que se passava em Israel lhes vinha do que os próprios israelitas diziam. Portanto, se os Israelitas diziam terem ganho em Gaza, ao contrário do que se passou no Líbano em 2006, os árabes iriam acreditar e desta forma a dissuasão israelita seria restabelecida por magia.

A contestação é cada vez menos tolerada e a situação poderá piorar. Benjamin Netanyahou – que contribuiu para enterrar os acordos de Oslo com os Palestinianos quando foi primeiro-ministro de 1996 à 1999 – vai provavelmente ganhar as eleições de 10 de Fevereiro. A única coisa que ainda não sabemos, é como é que vai progredir a extrema-direita.  

Esta semana, os membros da extrema-direita deram a conhecer a sua posição, como por exemplo Avigdor Lieberman, presidente do partido Ysrael Beitenu, que segundo as sondagens irá obter muitos bons resultados nas próximas eleições ; Lieberman apoiou a desqualificação dos dois partidos israelitas árabes, impedindo-os de se apresentar às eleições. Avisou os seus representantes: «Pela primeira vez examinamos a diferença entre lealdade e deslealdade». «Trataremos de vós da mesma maneira que tratámos do Hamas».

22 Janeiro 2009 - The Independent - Fonte:
http://www.independent.co.uk/opinio...; http://www.info-palestine.net/article.php3?id_article=5965
Traduction de l’anglais : Anne-Marie Goossens - Tradução do francês : Ana da Palma

 

 

 

Uma canção por Gaza: We will not go down

Michael Heart, un auteur compositeur-interprète de Los Angeles, est surtout connu pour son travail de studio à titre d’ingénieur et de guitariste. Touché par le conflit israélo-palestinien et surtout par le sort des habitants de Gaza, il a écrit et mis en ligne une chanson d’espoir et de soutien en leur nom, We will not go down.

Lyrics :

" A blinding flash of white light

Lit up the sky over Gaza tonight

People running for cover

Not knowing whether they’re dead or alive

They came with their tanks and their planes

With ravaging fiery flames

And nothing remains

Just a voice rising up in the smoky haze

 

We will not go down

In the night, without a fight

You can burn up our mosques and our homes and our schools

But our spirit will never die

We will not go down

In Gaza tonight

 

Women and children alike

Murdered and massacred night after night

While the so-called leaders of countries a far

Debated on who’s wrong or right

But their powerless words were in vain

And the bombs fell down like acid rain

But through the tears and the blood and the pain

You can still hear that voice through the smoky haze

 

We will not go down

In the night, without a fight

You can burn up our mosques and our homes and our schools

But our spirit will never die

We will not go down

In Gaza tonight

We will not go down

In the night, without a fight

You can burn up our mosques and our homes and our schools

But our spirit will never die

We will not go down

In the night, without a fight

We will not go down

In Gaza tonight "

------------------------------------------

"When the occupied is portrayed as violent and the occupier is victim, then democracy and justice have to be redefined. If the international community can’t stop Israel’s apartheid wall and the destruction of the Palestinian people and their livelihood, then humanity is at stake."

Michael Heart - Website : http://www.michaelheart.com/index.html

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