Desta vez, não se trata de ficção, nem de devaneios fotográficos, contudo poderia ser um belo título para um ou outro “Modos de Ver”, dado que poderia ter a consistência de um título de uma série didáctica acerca, ou em torno da imaginação, ou então, de um romance, como aqueles que são vendidos nas estações dos correios, nas estações de comboios, ou outro sítio parecido, é quase um título de romance policial, ou ainda, de literatura ligeira de conteúdo amoroso e erótico, ou ainda de uma aventura por uma zona desconhecida, do tipo a quinta dimensão, de uma novela de ficção cientifica, mas não. Não, nada disto tudo, pois é simplesmente algo de bem real, trata-se, infelizmente, dos desvios antes e depois do Imaginário, isto é, do corte da estrada nacional 114/1!
Se bem me lembro, fora em Julho, com o primeiro calor, que cortaram a estrada que atravessa o Imaginário. Imagino a paz e o silêncio que viveram – e vivem! - os habitantes desta localidade! Contudo, como sempre, nós portugueses, fiéis a nós próprios, isto é, ser português, sempre tão moldáveis em situações de emergência ou de último recurso, o famoso “desenrascar-se”, procurámos caminhos alternativos, nos meandros das serventias que atravessam os nossos pinhais e matas modernos, estes são agora, os eucaliptais, uma verdadeira aventura com alguns encantamentos, sobressaltos. Descobrir caminhos é uma aventura no nosso concelho, onde as tabuletas ausentes marcam a sua presença humana por indicações herdadas do tempo em que só os habitantes tinham o conhecimento do e dos caminhos, atalhos, veredas, sendas, carreiros, semitas e trilhos por onde passavam botas e tamancos, pés descalços, sapatos envolvidos de sacos de plástico. Uma aventura!
No momento dos fogos...ainda em Julho, lembram-se, houve aquele de Porto de Mós...as labaredas viam-se desde a auto-estrada A8 a caminho de Leiria, os carros dos bombeiros seguiam os desvios indicados principalmente a estrada nacional 114 que, segundo parece, segue até Espanha! Vejam só uma estrada tão pequena com tamanho destino! Imagino a dificuldade dos carros mais pesados dos bombeiros pela árdua e íngreme encosta, numa estrada estreitíssima que, após atravessar várias explorações aviarias, chega penosamente ao topo da Lagoa Parceira, aí depois das galinhas são os fornos e as chaminés das fábricas de tijolo, por vezes pelos habitantes cansados de terem que ver carros errantes perdidos de gasolina, transpirar os seus maus cheiros pelas quintas adiante, atravessando quintais e estradas privadas, colocaram painéis improvisados. Assim foi reaberta a estrada do Imaginário, os bombeiros passaram até a estrada ser novamente cortada...até agora.
Entretanto algumas serventias foram melhoradas, raspando, roubando terrenos aqui, acolá, mais um pouco aqui, mais um bocado acolá, para obter uma “quase estrada” alcatroada, sem sinalização apropriada. E os habitantes do concelho felizes por serem habitantes, mostram a sua perspicácia astuta e arguta, em seguir caminhos esquecidos tudo para servir de atalho!
Desejo realçar dois pontos o primeiro, aponta para a inconveniência destes seis meses, (ou mais ainda! Quem sabe!) de obras para os que trabalham nas Caldas e vivem nas aldeias/freguesias dos arredores. Obrigando a longos e perigosos desvios. A segunda permanece uma interrogação. Pois, no sítio onde estão a substituir a, assim referida, Obra de Arte, isto é, a ponte, quase despercebida que provocava esporádicas inundações, dado que se situa numa cova, da estrada, no final do Imaginário, há outra ponte mais antiga... lembro-me dela quando cheguei na região. Pois, curiosa e fervente ciclista com muitos anos de prática parisiense, um dia apercebi-me que havia ali uma bela pequena ponte de pedra, estreita e com um arco redondo, agora não posso dizer que tipo de ponte é, só permanece na minha memória o vestígio sem registo, pois não pensei que poderia vir a ser necessário registar...mas de longe dado que o acesso está totalmente cortado uma ponte em arco de pedra...essa ponte mais antiga parece estar a ficar totalmente soterrada...ou destruída? Alguém sabe? Alguém tem memória da Ponte? Será que termos de organizar um comité de salvaguarda da ponte? (da cova do Imaginário)