A semana europeia da mobilidade passou com os eventos agendados no folheto disponibilizado pela Câmara das Caldas da Rainha. Contudo, deve ter sido um pouco difícil ao cidadão aperceber-se do evento, envolver-se e participar de forma adequada, devido à semana coincidir com a primeira semana de aulas que, como sabem, é um autêntico fervilhar de pais procurando fazer malabarismo de disponibilidade para poder organizar os horários escolares com as actividades extracurriculares dos seus filhos de forma a serem compatíveis com o ritmo familiar e uma verdadeira multidão de pais empenhados em receber os livros escolares e procurar os materiais a menores custos compatíveis com os gostos das crianças. Esta semana europeia pode ter tido todos os efeitos desejados em países como a França, onde todos os alunos do ensino pré-universitário começam a escola num dia pré-agendado no final do ano lectivo anterior e conhecido de todos que ocorre sempre no decorrer da primeira semana de Setembro, ficando deste modo mais atentos e dispostos a participar.
O que motivou o início das semanas da mobilidade foi o estado do ambiente em que o cidadão tem que viver, isto é, a rapidez e eficácia que tem que demonstrar em cada dia de trabalho aliadas às consequências que isso tem no seu espaço de vida. A óptica da semana da mobilidade envolve questões fulcrais, tais como investir em meios de transporte alternativos, promover práticas de mobilidade duráveis, seguras e acessíveis, assim como uma partilha mais equilibrada do espaço público. A cidade das Caldas da Rainha participou pela primeira vez neste evento e, na verdade, tudo o que tem sido feito (zonas pedonais, parque subterrâneo, Toma...,) no decorrer dos últimos anos, aponta para este caminho.
A semana da mobilidade deve de envolver projectos e actores (câmaras, empresas, entidades, etc.), mas não pode esquecer as acções concretas de sensibilização dirigidas ao cidadão, tais como, incentivar pelo exemplo a deslocação de bicicleta, este deveria ser dado pelos próprios autarcas durante a semana da mobilidade; organizar passeios de bicicleta, com bicicletas próprias, ou fornecidas para a ocasião, pela autarquia; organizar concursos nas escolas e freguesias em que o prémio pode ser uma bicicleta, ou patins (se tivéssemos espaço e passeios adequados...); promover percursos didácticos nocturnos de bicicleta, organizar workshops para a resolução de problemas simples e manutenção das bicicletas; organizar sessões em que cada cidadão pode calcular a sua participação nas emissões de CO2, etc.
Referi mais acima que é importante promover as acções que são dirigidas aos cidadãos de forma puramente desinteressada, mas formativa e informativa. No dia 21/09/07 no museu do ciclismo, assisti ao que vinha referido no programa como sendo uma conferência, intitulada: “Melhores ruas para as pessoas nas Caldas da Rainha”. Primeiro, é preciso dizer que uma conferência é “uma reunião de pessoas para tratar de assuntos que interessam aos que nela tomam parte”, depois é necessário dizer que a dita conferência no seu conjunto, tirando apenas duas apresentações entre as quatro, não era para o público geral. De facto, houve a apresentação do Toma e a apresentação de um jovem arquitecto sobre os eixos rodoviários possíveis, a única que, de algum modo, trazia e fazia propostas concretas que interessavam o cidadão. Contudo, esta apresentação foi colocada num momento em que toda a intervenção foi desvalorizada. O resto destinava-se a empresas e à Câmara, foram actos de marketing que não podiam nem cativar, nem interessar o simples cidadão. Normalmente, há sempre que ter o cuidado de identificar o público-alvo para não levar o cidadão comum a abdicar de participar, por outro lado, uma apresentação em PowerPoint destinada ao público, não pode, nem deve de nenhum modo ser uma sobreposição de textos idênticos (um escrito nos slides e o mesmo lido) as novas tecnologias devem servir precisamente para manter a atenção do público, não para perdê-lo.
A confusão parece ser grande entre aquilo que importa ao cidadão e aquilo que a autarquia deve fornecer para promover a participação do cidadão. Se considerarmos bem este problema, há várias hipóteses: ou os nossos dirigentes fazem tudo propositadamente para afastar o cidadão da participação, lamentando ao mesmo tempo a sua ausência - isto seria totalmente maquiavélico - ou sofrem todos de falta de discernimento. Entre uma e outra hipótese, ainda prefiro a primeira (mesmo se remete para algo que me incomoda profundamente, não sou desconfiada mas, isto dá que pensar...ou não dá?), dado que a segunda hipótese é bem mais grave, contando com o facto que fomos nós quem elegemos os nossos representantes.
Quanto à audiência, constituída por um pequeno número de simples cidadãos com questões pertinentes apenas obtiveram respostas abruptas, retóricas ou evasivas.
A participação das Caldas da Rainha neste evento europeu é sem dúvida um passo em frente em questões ambientais, mas mesmo assim, há o desconforto de uma manipulação imprevisível e irremediável que apenas conseguimos calar, mas este calar acumula-se de forma vertiginosa sem que possamos saber até onde pára o silêncio. Será assim que se defende e promove a participação do cidadão?
( Ana da Palma, Gazeta das Caldas 28/09/07)